sábado, 4 de agosto de 2018

072- Depressão - corpo, mente e alma



Com grande expressividade no cenário mundial, a depressão tem apresentado índices alarmantes nos últimos tempos. Já chamada de “o mal do século”, deve atingir entre 15% e 20% da população mundial, no mínimo uma vez na vida. De acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde), até o ano de 2020, tende a ocupar o 2º lugar entre as causas de ônus gerados por doenças degenerativas e mortes prematuras.

Diante de um problema de tamanha seriedade, esta obra foi elaborada com o propósito de servir como um pequeno manual para aqueles que queiram compreender melhor os mecanismos da depressão. Pessoas que estejam buscando formas de auto-ajuda, familiares de deprimidos, espiritualistas, profissionais e estudantes envolvidos com a saúde física e mental, palestrantes de temas motivacionais, entre outros, encontrarão aqui importantes informações colocadas de maneira simples e objetiva. Trata-se de um estudo sobre os sintomas, as possíveis causas, os tratamentos disponíveis e as maneiras de se prevenir essa doença. De forma séria, abrangente e livre de preconceitos, o Transtorno Depressivo é aqui abordado com foco nos aspectos orgânico, psicológico e espiritual, possibilitando ao leitor compreender a participação do corpo, da mente e da alma nos processos de adoecimento e recuperação.

Muito tem se pesquisado sobre esse transtorno de humor que leva milhões de pessoas a perderem o interesse pela vida. O século XX trouxe grandes contribuições ligadas a intervenções psicoterápicas e farmacológicas, além de outras técnicas desenvolvidas com base nos conhecimentos de neurofisiologia e neuroanatomia. Atualmente, os avanços em neurociência têm possibilitado compreender melhor a relação mente-cérebro e criar técnicas de intervenção mais eficientes. Entretanto, muito ainda se tem por conhecer a respeito desse tema que desafia médicos e psicólogos e traz grandes prejuízos pessoais e sociais.

Desde a década de 90, a medicina e a psicologia vêm consolidando o uso associado de recursos farmacológicos e psicoterápicos no tratamento dos quadros depressivos, apoiando a idéia da interferência mútua entre fatores psíquicos e fisiológicos no surgimento dessa patologia.

Apesar desse reconhecido avanço no campo terapêutico, o elemento espiritual é ainda pouco considerado pelos profissionais da área de saúde. Provavelmente por adentrar o campo religioso, muitos dizem que a realidade espiritual é uma questão de fé e não de ciência. Entretanto, há mais de 150 anos, as manifestações dos espíritos vêm sendo investigadas, comprovadas e relatadas por inúmeros pesquisadores de grande respeitabilidade no meio científico. As informações obtidas através desses estudos e de diversas obras psicografadas (ditadas por pessoas desencarnadas) sugerem que o espírito, Ser imortal que habita o corpo e governa a mente, tem participação fundamental na construção dos processos depressivos, exercendo influência sobre a constituição orgânica e a estruturação psicológica, de acordo com o nível de evolução moral e intelectual em que cada pessoa se encontra. Atualmente, alguns grupos ligados à área acadêmica têm se organizado em torno das questões espirituais. Instituições de ensino superior vêm aos poucos conseguindo incluir tal abordagem nos cursos de psicologia e medicina. Colaboram nesse âmbito, os adeptos da Psicologia Transpessoal e a Associação Médico-Espírita do Brasil.

Fazendo um panorama sobre o tema “Depressão”, a presente obra está didaticamente dividida em oito capítulos: o primeiro busca definir o que é depressão, bem como descrever os sintomas mais comuns; o segundo oferece uma visão histórica sobre o desenvolvimento do conhecimento científico sobre o assunto; o terceiro cita dados estatísticos relacionados com a população mundial; o quarto apresenta os contextos nos quais o desencadeamento dessa doença é mais freqüentemente observado; o quinto aborda as possíveis causas psicológicas, orgânicas e espirituais; o sexto faz referência às intervenções médicas e psicoterápicas, assim como a vários recursos terapêuticos complementares ligados às questões energéticas, espirituais e de comportamento; o sétimo traz uma visão sucinta e objetiva do processo de cura; o oitavo e último capítulo é composto por reflexões sobre importantes temas ligados à depressão, englobando dicas de auto-ajuda.

Este trabalho foi produzido a partir de minha prática clínica, pesquisas bibliográficas e de enriquecedoras vivências no campo da depressão. Experiências difíceis, estas últimas, mas que puderam ser sentidas, pensadas, transformadas em exercício de fé, perseverança, esforço pessoal e auto-conhecimento, resultando em expansão de consciência, auto-superação e no desejo sincero de ajudar outras pessoas a perceberem que a vida pode ser vista com cores mais vibrantes quando cuidamos do corpo, da mente e da alma.
Espero que cada leitor possa concluir este estudo com algo a mais dentro de si e com um olhar mais consciente e amoroso sobre o ser humano, suas dores e seus potenciais.

Wagner Luiz



sábado, 28 de julho de 2018

071- Depressão - A fase pré-científica



A depressão é uma das doenças mais preocupantes da atualidade, porém há registros de personagens bíblicos como Jó e o Rei Saul, apresentando sintomas de depressão, tendo este último cometido suicídio e o primeiro sido exemplo de paciência, fé e perseverança.

Apesar de a depressão ter sido foco de muitos estudos nos séculos XIX e XX, historicamente a atenção dada a essa enfermidade remonta a vários séculos antes de Cristo.

Na Grécia antiga o estado melancólico era atribuído a castigos impostos pelos deuses em função de comportamentos incorretos.
Hipócrates (460-377 a.C.), o pai da medicina, foi o primeiro a considerar os comportamentos anormais com causas naturais, ao invés de sobrenaturais como ocorria até então.

No século II a.C., Galeno acreditava que o comportamento era influenciado pelo desequilíbrio de quatro líquidos presentes no corpo: bílis negra, bílis amarela, fleuma e sangue. Afirmava que o elevado nível de bílis negra levaria à melancolia, o aumento de bílis amarela seria responsável pela ansiedade, assim como o excesso de fleuma estaria associado ao temperamento preguiçoso e o de sangue às oscilações rápidas de humor. Com esse entendimento, no intuito de eliminar o excesso de bílis negra, o tratamento do paciente melancólico era feito com sangria, laxativos e vomitórios, o que levava muitos pacientes à morte por desidratação.

No século I da era Cristã, o médico grego Areteu da Capadócia teve marcante participação no entendimento dos quadros depressivos. Foi ele o autor dos principais textos que trouxeram à atualidade a idéia de uma unidade da doença maníaco-depressiva, apontando a mania como resultado do agravamento do quadro de melancolia.

Na Idade Média (500 – 1500 da era cristã), a forte influência religiosa na Europa fez com que as abordagens naturalistas fossem abandonadas e ressurgissem antigas crenças sobre a possessão demoníaca e o uso de tratamentos exorcistas para os transtornos mentais.

Por volta do século XIII, a Igreja católica passa a considerar a melancolia como um pecado, revelando uma fraqueza moral diante das vicissitudes da vida.

Durante o período da escravidão no Brasil, os negros, na condição de isolados de suas pátrias e famílias e privados de sua liberdade, eram acometidos por uma intensa e mortal nostalgia denominada “banzo”. Certamente, experimentavam depressão.

No século XVII, época em que a palavra “depressão” passa a ser utilizada pela literatura inglesa, o filósofo francês René Descartes (1596-1659) reiterou a idéia da cisão entre a mente (alma, espírito) e o corpo, já lançada pelo filósofo Platão (427-347 a.C.).  Descartes afirmava que após a morte do corpo, este se torna apenas uma máquina. Apesar da primeira dissecação humana ter sido registrada pelo filósofo grego Herófilo e pelo anatomista Erasístratro, considerado pai da fisiologia, aproximadamente 250 anos antes da era cristã, a afirmação de Descartes favoreceu a ampliação dos estudos sobre anatomia humana, escassos nos séculos anteriores, uma vez que a Igreja considerava o corpo como algo sagrado por ser a sede da alma. Desta maneira, a tese de Galeno foi sendo substituída pela compreensão de que o cérebro seria o responsável pelas perturbações do humor.