sábado, 28 de julho de 2018

071- Depressão - A fase pré-científica



A depressão é uma das doenças mais preocupantes da atualidade, porém há registros de personagens bíblicos como Jó e o Rei Saul, apresentando sintomas de depressão, tendo este último cometido suicídio e o primeiro sido exemplo de paciência, fé e perseverança.

Apesar de a depressão ter sido foco de muitos estudos nos séculos XIX e XX, historicamente a atenção dada a essa enfermidade remonta a vários séculos antes de Cristo.

Na Grécia antiga o estado melancólico era atribuído a castigos impostos pelos deuses em função de comportamentos incorretos.
Hipócrates (460-377 a.C.), o pai da medicina, foi o primeiro a considerar os comportamentos anormais com causas naturais, ao invés de sobrenaturais como ocorria até então.

No século II a.C., Galeno acreditava que o comportamento era influenciado pelo desequilíbrio de quatro líquidos presentes no corpo: bílis negra, bílis amarela, fleuma e sangue. Afirmava que o elevado nível de bílis negra levaria à melancolia, o aumento de bílis amarela seria responsável pela ansiedade, assim como o excesso de fleuma estaria associado ao temperamento preguiçoso e o de sangue às oscilações rápidas de humor. Com esse entendimento, no intuito de eliminar o excesso de bílis negra, o tratamento do paciente melancólico era feito com sangria, laxativos e vomitórios, o que levava muitos pacientes à morte por desidratação.

No século I da era Cristã, o médico grego Areteu da Capadócia teve marcante participação no entendimento dos quadros depressivos. Foi ele o autor dos principais textos que trouxeram à atualidade a idéia de uma unidade da doença maníaco-depressiva, apontando a mania como resultado do agravamento do quadro de melancolia.

Na Idade Média (500 – 1500 da era cristã), a forte influência religiosa na Europa fez com que as abordagens naturalistas fossem abandonadas e ressurgissem antigas crenças sobre a possessão demoníaca e o uso de tratamentos exorcistas para os transtornos mentais.

Por volta do século XIII, a Igreja católica passa a considerar a melancolia como um pecado, revelando uma fraqueza moral diante das vicissitudes da vida.

Durante o período da escravidão no Brasil, os negros, na condição de isolados de suas pátrias e famílias e privados de sua liberdade, eram acometidos por uma intensa e mortal nostalgia denominada “banzo”. Certamente, experimentavam depressão.

No século XVII, época em que a palavra “depressão” passa a ser utilizada pela literatura inglesa, o filósofo francês René Descartes (1596-1659) reiterou a idéia da cisão entre a mente (alma, espírito) e o corpo, já lançada pelo filósofo Platão (427-347 a.C.).  Descartes afirmava que após a morte do corpo, este se torna apenas uma máquina. Apesar da primeira dissecação humana ter sido registrada pelo filósofo grego Herófilo e pelo anatomista Erasístratro, considerado pai da fisiologia, aproximadamente 250 anos antes da era cristã, a afirmação de Descartes favoreceu a ampliação dos estudos sobre anatomia humana, escassos nos séculos anteriores, uma vez que a Igreja considerava o corpo como algo sagrado por ser a sede da alma. Desta maneira, a tese de Galeno foi sendo substituída pela compreensão de que o cérebro seria o responsável pelas perturbações do humor.




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