A depressão é uma das doenças mais preocupantes da
atualidade, porém há registros de personagens bíblicos como Jó e o Rei Saul,
apresentando sintomas de depressão, tendo este último cometido suicídio e o
primeiro sido exemplo de paciência, fé e perseverança.
Apesar de a depressão ter sido foco de muitos
estudos nos séculos XIX e XX, historicamente a atenção dada a essa enfermidade
remonta a vários séculos antes de Cristo.
Na Grécia antiga o estado melancólico era
atribuído a castigos impostos pelos deuses em função de comportamentos
incorretos.
Hipócrates (460-377 a.C.), o pai da medicina, foi
o primeiro a considerar os comportamentos anormais com causas naturais, ao
invés de sobrenaturais como ocorria até então.
No século II a.C., Galeno acreditava que o
comportamento era influenciado pelo desequilíbrio de quatro líquidos presentes
no corpo: bílis negra, bílis amarela, fleuma e sangue. Afirmava que o
elevado nível de bílis negra levaria à melancolia, o aumento de bílis amarela
seria responsável pela ansiedade, assim como o excesso de fleuma estaria
associado ao temperamento preguiçoso e o de sangue às oscilações rápidas de
humor. Com esse entendimento, no intuito de eliminar o excesso de bílis negra,
o tratamento do paciente melancólico era feito com sangria, laxativos e
vomitórios, o que levava muitos pacientes à morte por desidratação.
No século I da era Cristã, o médico grego Areteu
da Capadócia teve marcante participação no entendimento dos quadros
depressivos. Foi ele o autor dos principais textos que trouxeram à atualidade a
idéia de uma unidade da doença maníaco-depressiva, apontando a mania como
resultado do agravamento do quadro de melancolia.
Na Idade Média (500 – 1500 da era cristã), a forte
influência religiosa na Europa fez com que as abordagens naturalistas fossem
abandonadas e ressurgissem antigas crenças sobre a possessão demoníaca e o uso
de tratamentos exorcistas para os transtornos mentais.
Por volta do século XIII, a Igreja católica passa
a considerar a melancolia como um pecado, revelando uma fraqueza moral diante
das vicissitudes da vida.
Durante o período da escravidão no Brasil, os negros,
na condição de isolados de suas pátrias e famílias e privados de sua liberdade,
eram acometidos por uma intensa e mortal nostalgia denominada “banzo”.
Certamente, experimentavam depressão.
No século XVII, época em que a
palavra “depressão” passa a ser utilizada pela literatura inglesa, o filósofo
francês René Descartes (1596-1659) reiterou a idéia da cisão entre a mente
(alma, espírito) e o corpo, já lançada pelo filósofo Platão (427-347 a.C.). Descartes afirmava que após a morte do corpo,
este se torna apenas uma máquina. Apesar da primeira dissecação humana ter sido
registrada pelo filósofo grego Herófilo e pelo anatomista Erasístratro,
considerado pai da fisiologia, aproximadamente 250 anos antes da era cristã, a
afirmação de Descartes favoreceu a ampliação dos estudos sobre anatomia humana,
escassos nos séculos anteriores, uma vez que a Igreja considerava o corpo como
algo sagrado por ser a sede da alma. Desta maneira, a tese de Galeno foi sendo
substituída pela compreensão de que o cérebro seria o responsável pelas
perturbações do humor.
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