Uma
das lendas mais populares sobre o alcoolismo é aquela segundo a qual
uma pessoa se torna alcoólatra porque teve alguma tragédia amorosa
na vida. É a “teoria Vicente Celestino”: “Tornei-me um ébrio
e na bebida busco esquecer aquela ingrata que eu amava e que me
abandonou”.
A
hipótese que está por trás desses versos é a de que existia um
homem trabalhador, honesto, cheio de amor para dar e que deu tudo que
tinha e o que não tinha para o seu bem-querer. E que fez essa
aventureira, sem caráter ou gratidão? Sem nenhum motivo,
abandonou-o! A traição foi demais para quem sempre fora só carinho
e compreensão.
Pelo
menos, essa é a versão do alcoólatra da canção. Terá sido essa
a verdadeira estória? Não seria ele, há muito tempo, um biriteiro
enrustido, que apronta sem parar e jamais admite se exceder em nada?
Não terá ela suportado tudo o que uma mulher não pode suportar e,
só depois de ultrapassados todos os limites, desistido?
Jamais
saberemos. O que sabemos é que muitas e muitas vezes a verdadeira
versão é essa. Quase todas as músicas de fossa desenvolvem essa
teoria da dor-de-cotovelo como causa do alcoolismo. Mas essa teoria
não leva em conta vários fatores.
Logo
de saída, muita gente sente dor-de-cotovelo e nem por isso torna-se
um ébrio, tentando resolvê-la nos copos de um bar. Algumas pessoas
até tomaram um ou dois pileques por causa de algum sofrimento
amoroso, mas nem de perto adquiriram uma compulsão etílica.
E
mais. Se alguém fizer um cálculo estatístico da porcentagem
daqueles que perderam um grande amor e se tornaram ébrios, vai
verificar que não é maior nem menor do que entre aqueles que não
perderam um grande amor: os mesmos 10% a 13% vão sempre se repetir!
O
máximo que a dor-de-cotovelo pode fazer é deflagrar ou acelerar um
alcoolismo que já existia. Mas, se não fosse ela, outro fator
apareceria. Questão de tempo.
O
que há de verdade na relação alcoolismo/dor-de-cotovelo não é
que a dor-de-cotovelo gera alcoolismo, é que o alcoolismo gera a
dor-de-cotovelo. Afinal, quem aguenta conviver com um alcoólatra?.
Eduardo
Mascarenhas
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