sábado, 7 de janeiro de 2017

005- 3º Passo de A.A. (Visão Terapêutica)



O Terceiro Passo diz:  “Decidimos entregar nossa vontade e nossa vida aos cuidados de Deus, na forma em que O concebíamos".

Agir.  Estamos diante de uma dificuldade concreta no processo de tratamento.  Até agora, o alcoolista conseguiu vivenciar um sentimento de derrota, um aliviante sentimento de leveza e liberdade, antes que tardia e ainda que fugaz, mas que serviu para apresentá-lo humilde, disposto a ser ajudado.  O Terceiro Passo trata de como fazê-lo.

É necessário confiar, acreditar que a ajuda oferecida é suficiente e capaz de reverter o mecanismo de destruição.  Medo, dúvidas e ceticismo são naturais e deverão ser enfrentados com paciência e compreensão.  A confiança é a mola-mestra para um Terceiro Passo eficaz, é o combustível que moverá o mecanismo terapêutico – apesar do risco constante de retrocessos a cada dificuldade, diante dos quais se deve, sempre, retornar aos passos anteriores e reforçar a consciência da necessidade do tratamento e da possibilidade de sucesso.

O alcoolista estará, neste momento, diante de características importantes de sua doença: o imediatismo; a compulsividade; a imaturidade; a insegurança e o ceticismo.  O álcool trouxe alívio sintomático para seus conflitos, mas trouxe-lhe, também, a incapacidade de encará-los sem beber, tolhendo-lhe, cronicamente, as possibilidades de crescimento.  Abstêmio, ele estará novamente diante de tais conflitos, desconfortável e sem opções imediatas de alívio.  A tendência natural será sempre, até que todo esse processo seja revertido, a recidiva.  Sua (de todos) única segurança é a certeza (consciência) de que não há mais alívio, e sim dor cada vez mais intensa, contido no hábito de beber.

O Terceiro Passo é um passo de ação – costuma-se ouvir em grupos de Alcoólicos Anônimos.  Chegou o momento, é preciso começar e a única forma para começar a reverter à dependência alcoólica é acreditando que alguma outra forma de ajuda será suficiente para fornecer alívio e conforto.  Pessoas, grupos, planos de vida, Deus, algo há de funcionar, o importante é confiar, dar-se a chance de experimentar.

A atitude do profissional, neste momento, é muito importante.  Para o alcoólico, submeter-se a um processo de tratamento, onde conceitos e valores definidos e concretizados patologicamente durante tanto tempo devem ser renunciados e reavaliados é, antes de tudo, doloroso.   Dor, medo, angústias e pavor são imobilizantes.  É diferente saber-se doente e admitir a possibilidade de tratamento, de integrar-se e fazer parte, efetivamente, de um grupo terapêutico.  A mobilização do paciente, neste momento, depende, fundamentalmente, de confiança e respeito mútuos.  A identificação recíproca como fonte de conforto e alívio da solidão e insegurança tem sido largamente utilizada por Alcoólicos Anônimos.

Visivelmente, a consciência do passado é a mola propulsora desse processo e a entrega, nome dado à verdadeira participação no tratamento, depende, basicamente, de quão necessário esse processo é percebido pelo paciente.  Confiar, de uma hora para outra, em pessoas que lhe propõem abstinência do único recurso paliativo a seus conflitos depende de muita resignação e humildade.

A tarefa do profissional consiste, em primeiro lugar, em reforçar sempre a certeza de que o tratamento indicado é extremamente necessário e tão eficaz quanto mais ampla for a participação do paciente.  A partir de então, esse profissional poderá ajudá-lo a adquirir confiança no grupo terapêutico, em função da confiança adquirida em si próprio.  É comumente notado que o alcoolista passa a acreditar no tratamento a partir do momento em que toma contato com os benefícios que o mesmo vem-lhe trazendo.  Incentivo, apoio e envolvimento são, aí, fundamentais.

É importante esclarecer que para um programa propulsionado por motivação intrínseca para mudanças concretas de comportamento e valores, é fundamental que o ciclo de retroalimentação dessa motivação esteja fluindo naturalmente.  Disso dependem todos os outros passos e de tais passos depende a segurança e a efetividade do tratamento.  Cada progresso é um vínculo a mais com o próprio processo e cada vínculo adquirido é a própria motivação para novos progressos.


Confiança se transmite confiando, fé só se transmite acreditando.



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