O Quinto Passo diz: “Admitimos perante Deus, perante nós mesmos e
perante outro ser humano, a natureza exata de nossas falhas”.
Se pudéssemos resumir o
tratamento do alcoolismo em uma só palavra, esta seria “reformular”. É claro que essa reformulação deve ser tão
abrangente quanto se deseje efetividade para o tratamento. E é claro, também, que essa profunda e
complexa reformulação deve ter início o quanto antes.
Os passos anteriores trataram de
um preparo, pessoal e metodológico, do terreno propício a essa reformulação e,
através de um meticuloso inventário inicial, foi possibilitado, ao alcoolista,
tomar contato com o que de mais premente há para ser reformulado.
A partir do Quinto Passo
inicia-se concretamente a reformulação, pois, em termos abstratos e genéricos,
é óbvio que esta se inicia desde o momento primeiro do tratamento – à
interrupção do uso do álcool.
Após o momento de reflexão
proposto no Quarto Passo, e após uma efetiva participação em procedimentos
terapêuticos grupais, é bem provável que o paciente tenha podido enxergar
alguns aspectos importantes de sua moral, caráter e comportamento e é também
possível que, diante do recém-iniciando processo de autoconhecimento, ele tenha
condições de avaliar os propósitos e benefícios de tentar reformular alguns
desses aspectos.
De certa maneira, pode-se
imaginar que após esses progressos o alcoolista esteja apto a dirigir seus
próprios caminhos no sentido de uma verdadeira reformulação. Mas, infelizmente, estamos diante de uma
doença cujos sintomas e sinais principais derivam de conflitos gravíssimos
entre consciência pessoal e consciência social e fundamentam-se em crônica
distorção da visão de mundo e da realidade.
Portanto, é possível também que todos esses elementos terapêuticos até
aqui desenvolvidos estejam, sobremaneira, influenciados por essas características
patológicas, a saber; negação, racionalização e projeção.
Além disso, quando se trata de
alcoolismo, com todo o seu estigma moral e social, é provável que entre o
reconhecimento de todas as facetas adoecidas do caráter e do comportamento e a
real admissão de todas elas como patológicas, exista uma grande barreira
formada por orgulho e preconceitos pessoais.
É preciso, portanto, promover uma
ampla discussão de todos esses dados, para que estes possam ser elaborados
detalhadamente sem aqueles bloqueios pessoais.
Mecanismos psicológicos de defesa, orgulho e desconfiança devem ser
dissolvidos através da confiança mútua; da integração definitiva; da igualdade; da compreensão; do alívio e da catarse.
É esse o fundamento do Quinto
Passo. Alcoólicos Anônimos o chama de
“limpeza da casa”, uma verdadeira abertura de portas e janelas, uma ruptura
definitiva com os principais vínculos mantidos com a doença.
O clímax do programa terapêutico
de base comportamentalista está na submissão integral e esta está contida no
Quinto Passo. A partir do momento em que
o alcoolista se expõe, honesta e claramente, a outra pessoa de sua inteira
confiança, ele está, automaticamente, rompendo as barreiras do isolamento, do
orgulho, da desconfiança e da desonestidade.
Vencer o medo, a culpa, a vergonha e a raiva dependem de muita motivação
e é a prova definitiva de que existe real aceitação e entrega (como foi
anteriormente definida) ao processo terapêutico e, portanto, reais
possibilidades de êxito.
O profissional pode desempenhar
diversos papéis para prestar auxílio ao paciente na efetivação desse passo,
desde promover uma discussão ampla das características do alcoolista, em grupos
terapêuticos, até dispor-se a compartilhar com o paciente a íntegra de seu
Quinto Passo. Para isso, é necessário
apenas discrição e imparcialidade, já que a confiança depositada pelo paciente
ao escolhê-lo como apto a desempenhar tal papel denota existirem, nesse
profissional, atributos pessoais relevantes.
É importante salientar que não
existe parâmetro para se verificar a eficácia do Quinto Passo, a não ser o que
esse procedimento trouxe de resultados em relação à evolução do paciente. Este próprio deverá ser o parâmetro de
efetividade. Um Quinto Passo deve servir
para promover, antes de mais nada, a definitiva integração do alcoolista ao
processo de tratamento e, diante disso, podem ser necessários outros “Quintos-Passos”
mais, tantos quantos forem necessários à tal integração. O mais importante, aqui, é iniciar.
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